O verbo que se fez mundo: mundo alcançável
“As palavras saem quase sem querer [...] elas estão dentro dos meus olhos, da minha boca, dos meus ombros, se quiser ouvir, é fácil perceber”. Cidades inteiras, melhor, o mundo inteiro nasceu a partir daí- do imperativo- a palavra, como senhora imperadora, trouxe luz para iluminar o abismo; é divisora de águas- águas de cima e águas de baixo; é o hiato entre céu e terra. São elas também as que ‘violentam, enlouquecem, me fazem dormir, adoecem, curam, me dão limites’- ah claro!- informam!
O universo se divide ou se mistura em imperativos/ações, substantivos, adjetivos, advérbios, pronomes, artigos, numerais, conjunções e o que mais couber. Essa história do ser humano ser simbólico complica ou descomplica? Por que desmembrar tudo? Palavra não poderia ser apenas... palavra? Digo, é muito poderosa pra ser tratada de forma seca, afinal, ela é sentido, texto, contexto e constitui a LINGUAGEM.
Por que comunicar? Comunicação é cons-tru-ção, constrói o ser, ser este que não tem natureza, mas se faz de acordo com o meio, que são códigos e informações que recebe.
Alguém, algum dia teve a brilhante ideia- cabe um neologismo?- de jornalizar a informação. Brilhante, sim, já que comunicar é expandir, atingir e contagiar. A ‘jornalização’ seria o indício do nascimento de um sujeito muito bom de oratória que ficaria conhecido por ser objetivo, neutro e imparcial.
Esse sujeito sofreu o que muitos ainda sofrem: não ter seu valor reconhecido. Ele queria mostrar para o mundo que sabia das coisas e pretendia que o mundo as soubesse. Mas, o mundo achava que sabia por si só e o deixou de escanteio.
No entanto, o sujeito, conhecia bem aquela palavra chamada perseverança e, com muita luta, fez com que seu valor fosse reconhecido, tanto que nos anos 1950 ele era chamado até de herói! Em 1969, finalmente, precisava até de diploma pra exercer sua função. Contei a história toda, mas não falei quem é o sujeito, ele é o Jornalista.
Jornalista pode ser um e vários, ele se multiplica e se divide, seja na televisão, no rádio, no jornal impresso, na internet, nos livros, palestras, na universidade. É repórter, locutor, apresentador, escritor, professor, aluno, blogueiro, youtuber, redator, diagramador é até trapezista ao viver se equilibrando entre cumprir com o dever ser do jornalismo, agradar ao patrão e também ao público, que pode estar do outro lado do mundo; ser ao mesmo tempo objetivo, neutro e imparcial.
Pode- se dizer que o Jornalista é um contador de histórias, de histórias reais. Verdadeiramente, um mediador entre o indivíduo e o planeta, aquele que traz à tona símbolos de culturas distantes, assim como o choque com a realidade próxima. Tem compromisso com a verdade, então, o que é a verdade? Pode ser um fato, mas pode vir munida de interesses, seja da empresa de comunicação, da fonte ou do próprio jornalista.
Após 40 anos de reconhecimento, o Jornalista viu sua conquista se desfazer com a queda da obrigatoriedade do diploma, o Supremo Tribunal Federal dizia que ele era inconstitucional, e que infringia a Liberdade de expressão com o adicional de que com o advento da internet, muitas pessoas comuns têm feito seu papel. O que gera um questionamento: o diploma precisa ou não ser obrigatório? Esta é mais uma adversidade que o Jornalista tem que enfrentar, porém, ele tem fé que a PEC do diploma trará seu reconhecimento de volta, já que assim como ele, ela acredita que o profissional formado tem competência e habilidade técnica para investigar e transmitir informações adequadamente, além de enriquecer o repertório acadêmico da profissão.
Enfim, o Jornalista, não é um personagem, apesar de ser tratado neste texto como tal. É válido ressaltar que, acima de tudo, ele é humano, que acerta, erra, opina, aprende, ensina, é corajoso, se acovarda, corre risco, é interessado, pode ser corrompido, é pai, mãe, filho, vive...
O Jornalista busca despir de si mesmo, deixa de ser o menino das palavras sozinhas para alcançar, alcançar o Outro- assim mesmo- em maiúsculo.