"Tem talento de equilibrista, ela é muitas se você quer saber"
Quando ela acordou, o salão estava completamente vazio , era uma frustração enorme para Priscilla, uma cantora de rock, atualmente com 40 anos, de baixa estatura, olhos verdes e longos cabelos ruivos; nenhuma
pessoa comparecer ao seu show.
Apesar de ser bastante eloquente e inteligente, é também perfeccionista, isso fazia com que, em sua adolescência, se sentisse feia fisicamente (este foi seu grande segredo guardado por anos). Então, ela buscou suprir a carência de beleza com conteúdo acadêmico, assim, apareceu mais um embate: passou a questionar o mundo de forma absolutamente profunda, fato que acarretou em sua maior angústia, não se enquadrar em uma religião, hoje ela se diz agnóstica por convicções. É uma pessoa inconformada com os padrões socialmente estabelecidos, indignada com as desigualdades sociais e tem uma postura um tanto combativa.
Mas, voltando à ocasião do show, o maldito pensamento não lhe saia da cabeça: "como isso pôde acontecer, saí de São Paulo para realizar um show no interior de Minas e, simplesmente, ninguém apareceu para assistir ao meu show? Será que ninguém pretende 'desinstalar o sistema' junto comigo?". Olhou para o lado e, finalmente, apareceu uma fã com uma camisa de sua banda, atrás dela, veio uma multidão de jovens que cantavam suas músicas, as quais soavam como hinos de combate ao retrocesso. Uma gota de suor escorreu sobre a testa de Priscilla, aquilo representava o alívio que ela sentiu ao ver que não estava sozinha na luta por seus ideais.
Naquele momento, ela soube que sua vida nunca mais seria a mesma, ela que desde criança se via oprimida pela sociedade desigual, sentiu uma grande alegria em seu coração, já que ali se reafirmou em seu pensamento a ideia de que com sua paixão pela música, poderia pintar o sete (seu número da sorte) e contagiar o país, talvez o mundo, por meio de suas belíssimas composições.